terça-feira, 23 de junho de 2009

Como você "come" sua vida?



Engraçado como em conversas descontraídas e desinteressadas surgem grandes pensamentos. O tema deste post surgiu em meio a pizzas e refrigerantes, onde se discutia os hábitos de uma comilona assumida... eu. Comer sempre foi um prazer para mim, porém já tive meus altos e baixos com este hábito essencial à sobrevivência. No entanto, este dia me fez ver este hábito com outros olhos, uma das pessoas na mesa – apaixonada pela arte de cozinhar – disse algo intrigante... “– Para mim a forma como as pessoas comem diz muito sobre como elas vivem suas vidas”... frase simples e cheia de significações.
Essa frase me fez pensar sobre meus hábitos e de maneira reveladora, realmente a forma como me alimento tem muito a ver com a forma como vivo minha vida. Assim, adequando o sábio ditado indiano “você é aquilo que come” ao tema deste post...”você é como você come”.
Nossa relação com a comida é inerente e essencial, precisamos dela para viver e não podemos mudar isso, mas a forma como comemos pode mudar e muito. Muda de pessoa para pessoa, de cidade para cidade, de país para país, de idade para idade, de macho para fêmea, assim como a forma que vivemos. Podemos comer rápido, podemos viver rápido, podemos comer variedade, podemos viver variando, podemos deixar de comer, podemos deixar de viver. A minha forma de comer a vida, ou melhor, a forma como eu quero comer minha vida, se resume em uma frase: - Quero sentir os sabores e dissabores da vida, antes que não possa mais sentir. Quero experimentar cada pedacinho da vida, cada gosto amargo e doce, cada creme, cada crocante, cada mistura de tudo. Algumas pessoas fazem isso, outras apenas engolem a vida como algo que deve entrar simplesmente, não como algo que deve ser degustado e apreciado. Para algumas pessoas – obesas mórbidas, anorexas, bulêmicas - a comida é fonte de angústia e dor, assim como a vida, elas não conseguem encontrar prazer na hora de comer, e não conseguem comer a vida com prazer.
A vida, assim como cada alimento (frutas, cereais, legumes, verduras, massas, carnes), é rica em sabores e texturas, cada um deles e misturas deles são únicos em sabores, por isso não deixe de experimentá-los. E ainda que não goste, pelo menos poderá ter a certeza que se alimentou bem de sua vida.

Por isso, fica a pergunta...COMO VOCÊ COME SUA VIDA?



OBS: Como podem ver pelo tamanho deste post, diferente do anterior...conseguir evitar a prolixidade rsrs.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Criança com olhar de adulto?


Que olhos são esses?
Que não brilham como antes
Que não vêem como dantes

Queria alegrar-me com pouco
Sorrir como um louco

Por coisas tolas
Por isso e aquilo à toa

Ver as pequenas sutilezas
As difíceis belezas

Da adulta realidade
Da cega seriedade

Será que há oportunidade?
Posso eu ver com a felicidade?

Estar feliz não traz admiração
Apenas instiga emoção
E só permite aquela visão
Se quiseres então.

Quis começar o post deste mês com este poema que escrevi há tempos, provavelmente há 2 anos, pois o cerne dele se baseia no mesmo tema deste novo post: O olhar de uma criança!!
É engraçado guardar estes poemas e revê-los após algum tempo, podemos notar claramente o quanto mudamos e como nossa percepção do mundo muda. Este poema nasceu da observação do olhar de uma criança, o que muitas vezes me frustrava, pois tentava encontrar em meus olhos aquele mesmo brilho e, enquanto me questionava sobre tal, surgiu o poema acima, ele não traz respostas, mas notando o brilho no olhar dos adultos, quando estes se encontram em momentos de felicidade plena, notei que os brilhos são parecidos, ao menos apresentam a mesma intensidade, mas é óbvio que não são iguais. O olhar de uma criança é composto de admiração, admiração pelo novo, pela ignorância, pela ingenuidade, e nós – adultos - não temos mais isso, a não ser que sejamos “Macabéas”1, mas os “Macabéas” da sociedade muitas vezes são ridicularizados, estigmatizados ou simplesmente ignorados. Quando vejo o olhar de uma criança sempre sinto um misto de alegria e pesar, eu realmente ainda queria ver o mundo com aqueles olhos, mas o mundo nos arranca a capacidade de ver com admiração, logo eu poderia desejar ser Macabéa, mas para mim já é tarde, então talvez eu consiga pelo menos olhar o mundo de forma mais positiva, mais ingênua, e ser taxada como boazinha e bobinha. Mas o que me levou a escrever este post não foi a “inveja” dos olhares das crianças, na verdade foi o contrário, recentemente temos sido bombardeados com reportagens sobre casos de violência sexual contra crianças e ao ler uma dessas reportagens logo me questionei... - Será que invejo o olhar de todo tipo de criança? Até estas que sofreram abuso? Parece loucura, mas eu fiquei extremamente brava porque estes seres desumanos tiraram o brilho, tão invejado por mim, do olhar dessas crianças, eles tiraram aquilo que faz delas pessoinhas tão especiais e dignas da plena felicidade, porque ninguém além de uma criança é mais digna de felicidade. Algumas pessoas podem até discordar, porque muitas dessas crianças nem entendem o que aconteceu com elas, talvez até preservem o brilho infantil, mas não sei... uma parte de sua pureza e ignorância foi cruelmente arrancado delas, logo não acredito que o brilho continue com a mesma intensidade.
Usei a violência sexual para questionar o que estamos fazendo com o brilho no olhar de nossas crianças, mas esse é apenas um caso com notoriedade maior e que talvez cause um pouco mais de estardalhaço, mas muitas outras coisas fazemos, pois se não o fizéssemos nossas crianças não teriam filhos, não matariam, nem roubariam e com certeza elas não têm o brilho que um dia invejei e que um dia, por sorte, também tive.
Bom, este texto foi só para expor minha preocupação com a infância de nossas crianças, algumas não tem nem chance, pois nascem em contextos conturbados, são vítimas muito cedo de inúmeras violências, mas algumas crianças tem todas as chances do mundo, mas muitos pais deixam que a ignorância e a ingenuidade de seus filhos seja precocemente extinta, logo permitem que o brilho no olhar deles seja menos intenso. Se não pararmos pra refletir sobre nossas crianças e sobre a infância que estamos dando à elas, logo teremos crianças com olhar de adulto e eu, sinceramente, não vejo nenhum benefício nisso.


1. Macabéa: é personagem de A hora da estrela, de Clarice Lispector (1925-1977), vê a vida como uma coisa que apenas é porque é: já que sou, o jeito é ser. Ela não se questiona, sua existência é apenas ser, como um cachorro é cachorro sem o saber. Raquítica, sem vocação, sem sonhos e sem objetivos, acredita mesmo ter sido "soprada" no mundo - como quando um cisco é soprado do olho.

Obs: Essa é a descrição de Macabéa no Wikipédia, mas quando li este livro entendi Macabéa como uma pessoa feliz e confortavelmente alienada, sua ignorância e ingenuidade eram sua proteção contra a “feiura” do mundo que a cercava, por ignorar muitas coisas, ainda conseguia se admirar com o simples.